Quebra de confiança


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Matheus, 15 anos.

É bom saber que alguém se importa com você, mas eu não me iludo com isso. Piedade, compreensão, amizade verdadeira. Isso tudo é palhaçada. Isso não existe. O que existe é o interesse. Se alguém se aproxima de você, saiba que é porque ela quer alguma coisa com isso. Nem que seja não estar sozinha, ou se sentir bem por fazer algo bom. É tudo apenas interesse, então, não se iluda também. É idiotice.

Eu me deixei iludir por isso uma vez, e não vai acontecer novamente.

O céu já estava escuro e a noite estava fresca. Eu estava sentado no estacionamento de um supermercado comendo um pacote de biscoito que uma velhinha deixou cair da sacola sem perceber. Não me chame de ladrão por isso, ela tinha muito mais na sacola, e esse pacote não vai fazer muita falta. Mas nesse dia, um homem se aproximou de mim e me entregou um cobertor. Eu conhecia ele. Era o segurança do lugar. Seus olhos eram duros, mas um leve sorriso tomava conta de seus lábios. Depois disse dia, ele passou a me levar comida nas noites em que eu estava lá e nunca perguntou como eu arrumava os machucados no meu rosto ou cicatrizes. Até mesmo me convidou para ir para sua casa e depois de certa insistência dele, eu aceitei.

Sua casa era simples e eu tinha que dormir no sofá, mas era confortável e quente. E tinha comida. Aos poucos, eu consegui evitar de usar as merdas que costumava usar, foram semanas boas, mas durou pouco.

Uma noite eu acordei com ele em pé ao lado do sofá, sua calça estava nos joelhos e o cinto em sua mão. Foi um dos momentos mais desesperadores da minha vida. Eu o empurrei e nos envolvemos em uma breve briga, apesar de ele ser maior que eu e mais forte, o meu instinto me ajudou. Havia uma garrafa de cerveja na pia e eu bati em sua cabeça. Ele caiu e eu corri.


Era a minha deixa para deixar aquela cidade. E um lembrete de que não se pode confiar em ninguém.

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